A PREDESTINAÇÃO CALVINISTA, A GRAÇA E A FÉ


A predestinação calvinista na bíblia é um tema complexo e debatido por teólogos há séculos.
De modo geral, refere-se à ideia de que Deus, em sua soberania, já determinou o destino final de cada pessoa, ou seja, se ela será salva ou condenada. Essa visão é calvinista.

A predestinação calvinista gera uma tensão com a ideia do livre arbítrio. Se Deus já determinou o destino de cada pessoa, como podemos ter liberdade para escolher entre o bem e o mal? Essa visão é arminiana.

Longe de tentar explicar essas duas visões soteriológicas polêmicas e extremistas, vamos mergulhar em alguns textos bíblicos que trarão mais luz sobre a eleição, predestinação, graça e fé ensinadas, não por João Calvino ou Jacó Armínio, mas pelo apóstolo Paulo com alguns detalhes sensíveis que poderão esclarecer as dúvidas de quem procura a verdade em seu contexto.

A doutrina da predestinação segundo Paulo

Vamos refutar a doutrina da predestinação com os próprios textos citados pelos teólogos que a defendem. Leia:

"Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor." (Ef 1:4)

Qual o propósito da eleição da igreja antes da criação? Uma vida santa e irrepreensível em amor (Ef 1:4). Entenda, esse era o plano original divino para toda a sua criatura e não apenas para a igreja. A igreja agora ingressa nesse plano por meio de Cristo! Esse verso não pode se referir à predestinação conforme a visão calvinista, mas sim ao plano original de Deus para todas as suas criaturas. Paulo continua:

"E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade." (Ef 1:5)

Uma análise cuidadosa faz compreender que Paulo,  por meio da expressão "nos predestinou",  coloca a si e aos efésios como pecadores que estavam predestinados para a filiação em Cristo. Assim como qualquer pecador pode ter o mesmo privilégio por meio de Cristo. Antes de Cristo eles eram pecadores e dignos de morte por seus pecados. 

A expressão "em Cristo" quer dizer que somente o seu evangelho pode trazer salvação aos pecadores. Tal como a palavra de Deus deu origem a todas as coisas. O evangelho é para todos e não para um grupo seleto de predestinados antes da criação.  Assim, a ideia de uma antecipação do destino de alguns salvos e outros condenados foge aos propósitos do evangelho da graça.

Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado." (Ef 1:6)

Quando a igreja tornou-se agradável a Deus? Quando ela acessou a graça divina pela fé no evangelho da cruz e foi redimida aos planos originais de Deus. 

Observe que, em todas as passagens que citam eleição e predestinação, Paulo não fala de perdição ou condenação, mas sim de filiação, santidade, herança e amor. Ou seja, o seu propósito não era dogmatizar a doutrina da predestinação conforme a visão calvinista. Ele apenas enaltece a graça de Cristo pela existência da igreja, segundo o beneplácito da vontade de Deus. Esse era o seu plano original para todos os seres humanos e a igreja alcançou essa graça pela fé no filho de Deus. (Ef 4:13)

De todos os versos citados acima nenhum fala da predestinação antes da fundação do mundo, exceto em Efésios 1:4. E como já citado acima, este se refere à vontade original de Deus para todas as suas criaturas. Nos outros textos, a predestinação é para pecadores redimidos por meio da graça e da fé em Cristo Jesus. Por que razão, Paulo falaria de predestinação para alguns escolhidos antes da criação, se o motivo pelo qual Cristo veio era para a salvação dos perdidos? É justamente por isso que ele usa sempre a expressão "Em Cristo"!

"Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,

De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra..."  (Ef 1:9-10)

O apóstolo cita várias vezes que a vontade de Deus para a sua criação sempre foi o amor, a justiça e a santidade. Através do evangelho, ele descobriu (revelou) aos seus apóstolos escolhidos a sua vontade de reunir todos os seus filhos, do céu e da terra, em torno dele pela fé em Cristo. Os versos 9 e 10 estão no contexto de todo o capítulo 1 de Efésios que citam a eleição, a predestinação, a herança, a santidade, o amor e a reconciliação por meio de Cristo! 

"Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade... " (Ef 1:11)

Quando a igreja foi feita herança de Deus? Após a predestinação para filhos de adoção por meio de Cristo (Ef 1:5).

No verso de número 10, Paulo cita a Cristo. No verso 11 ele usa o termo "Nele", para afirmar que Cristo fez da igreja a herança de Deus!

Portanto, todas as criaturas, no plano original divino, foram criadas para uma vida santa e irrepreensível, e a predestinação para a salvação ocorre somente em Cristo. Antes da fundação do mundo todos estavam predestinados para uma vida piedosa, após a criação e o pecado todos foram predestinados para a restauração por meio de Cristo. 

Quem Deus conheceu?

Como Paulo explica em suas cartas, não havia nos pecadores qualquer mérito para que Deus predestinasse somente alguns para a salvação. Se ele os fez agradáveis a si, então todos estavam sem chance de remissão, a não ser por meio de Cristo. Vejamos outro texto:

"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." (Rm 8:29)

Quem Deus conheceu antes? Todos os homens e mulheres do Antigo Testamento que viveram um relacionamento íntimo pela fé com ele. Eles foram predestinados, à semelhança da igreja, para serem conforme à imagem de Cristo. Isso quer dizer que o senhor Jesus é o primogênito, o primeiro da família de Deus posto para modelo de santidade, amor e justiça. 

Somente os que abriram o coração para o único Deus verdadeiro e viveram pela fé são conhecidos de Deus (Hb 10:38). Sem fé nas promessas divinas, em suas revelações, conselhos e orientações não poderiam ser predestinados para serem conforme a imagem de seu filho. Sem fé é impossível agradar-lhe (Hb 11:6). Leia o verso a seguir:

"E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou." (Romanos 8:30)

Os versos 29 e 30 devem permanecer no mesmo contexto. Os predestinados, sob o antigo pacto, para serem conforme a imagem de Cristo pela fé, foram chamados, justificados e glorificados, tal como  Abraão, nesta mesma ordem. Deus quer predestinar a todos para serem conforme a imagem de seu filho pela fé no evangelho da graça. (1Tm 2:4)

Note que a predestinação de que Paulo fala e que não pode contradizer o seu evangelho é sempre do plano original divino e em Cristo. Mas devido ao pecado, foi necessária a mediação de Cristo para que todos fossem restaurados mediante a fé no evangelho da graça. Um povo santo e justo sempre foi o sonho de Deus, por isso que Paulo usa as citações: "nele ou no princípio", "nos elegeu nele". Os textos a seguir provam que Deus sempre conheceu as suas criaturas como santas e não como ímpias:

"E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." (Mateus 7:23)

"Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?"  (Gálatas 4:9)

"Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade." (2 Timóteo 2:19)

A salvação é um dom. O evangelho é a graça de Cristo que chega até ao pecador. Se este crer de todo o coração ele será salvo. O senhor Jesus declarou quem crer será salvo e não um grupo seleto determinado pelo criador antes da fundação da criação.

É contraditório ensinar que Deus quer que todo homem seja salvo (1Tm 2:4), e ao mesmo tempo afirmar que ele elegeu apenas alguns para a salvação antes da fundação do mundo. A parábola do semeador deixa bem claro que o problema está no coração do homem. Uns ouvem a palavra, mas satanás rouba o que foi semeado em seus corações. Alguns logo esquecem da palavra diante das perseguições, e outros preferem os prazeres da riquezas e a verdade não se frutifica em suas vidas. (Mc 4:14-20)

Jesus não morreria na cruz, e nem satanás perderia o seu tempo lutando para que a palavra não chegue aos perdidos. Paulo disse que o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho. Logo, o diabo vê no evangelho da graça o meio de salvação daquele que crê. A graça é acessada pela fé no evangelho. O mérito da salvação é de Deus e crer no evangelho de seu filho não é um mérito para a salvação, mas sim a condição para acessá-la e glorificar o seu autor! Dessa forma, a salvação não é pela predestinação calvinista.

Pela palavra o Universo foi criado. Pela palavra o mundo é salvo se crer. Pedro disse que a igreja foi gerada pela semente incorruptível (1 Pe 1:23). Crer não significa ter mérito na salvação, mas sim recebê-la como uma dádiva divina. Aliás, não se pode crer sem ouvir o evangelho, assim o mérito da salvação é somente do salvador, já que ele faz chegar a sua palavra até aos pecadores. Nem todos a recebem porque são incrédulos, porque são enganados pelas heresias ou preferem a glória do mundo. (Jo 12:43)

Portanto, a graça está no evangelho de Cristo. Tal como a graça do universo veio pelas palavras criativas de Deus. O evangelho de Cristo é luz e o seu propósito é iluminar a todos. O evangelho de Cristo é a palavra da cruz para a justificação de todo o que crê (Mc 16:16)

A doutrina da predestinação calvinista e o seu ponto fraco

A doutrina da predestinação calvinista encontra, logo no princípio, um grande problema  para se ancorar. Aqui vai uma pergunta: o rebelde querubim e seus anjos foram criados e predestinados para serem lançados no fogo? Tal doutrina blasfema de Deus chamando-o de tirano injusto, perverso e cruel. Algo contrário ao seu amor e justiça. Os anjos ouviram as palavras, as leis e os conselhos divinos, mas escolheram o seu destino. Deus disse a Israel:

"Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência." (Deuteronômio 30:19)

A proposta divina, tendo o testemunho dos céus e da terra, era justa e deu aos hebreus o direito de escolher o caminho que quisessem. Mas o desejo de Deus era a vida para todos e não apenas para alguns predestinados.

A predestinação foi citada por Paulo e isso é inegável, porém não com a visão calvinista. Somente em Cristo ela passa a ter todos seus efeitos. Isso significa que o salvo jamais perderá a sua salvação? Não. Se os anjos pisaram a graça divina e os hebreus foram destruídos por causa de sua incredulidade como Paulo alerta, assim também qualquer um que pisar o sangue de Cristo terá o seu nome riscado do livro da vida. (Ap 3:5)

Tudo se inicia e se consuma na palavra de Deus. Fora dela não existe sentença alguma. A fé é para acessar a graça da salvação (Rm 5:2; Ef 3:12; ), e a predestinação é um retorno à vontade original do criador, isto é, a uma vida santa e conforme a imagem de seu filho projetada para as suas criaturas já desde a queda do homem. 

O sacrifício de Cristo não pode ser invalidado por tamanha heresia! Se a  predestinação calvinista fosse uma verdade bíblica incontestável a morte de Cristo na cruz seria inútil. E se assim fosse, Paulo seria contraditório ao dizer que Deus deseja a salvação de todos e ao mesmo tempo ter determinado o destino antecipamente de alguns para salavação e outros para a condenação. (1Tm 2:4)

Portanto, tenha em mente que, todas as vezes em que os termos "presciência", "predestinação", "eleição" ou "eleitos" aparecem nas cartas paulinas, eles trazem consigo o entendimento do plano original divino e da obra de Cristo em favor dos pecadores arrependidos pela fé e não de um grupo seleto de salvos predestinados antes da criação. 

O autor e consumador da fé

Há um debate constante entre calvinistas e arminianos sobre a fé salvífica. O primeiro grupo diz que a salvação e a fé vêm de Deus pela sua graça. O outro grupo defende que a salvação é pela graça e pela fé pessoal. Vamos corrigir isso considerando todo o trabalho da graça do Pai, do filho e do Espírito Santo.

Considere a salvação como algo grátis e exclusivo de Deus. O pai deu as promessas gratuitamente a Abraão e  a todos os crentes em Cristo. Jesus nasceu em carne, viveu, evangelizou, morreu, ressuscitou e assentou-se à direita de Deus como o nosso sumo sacerdote. Por último, o Espírito Santo, através de seus servos, faz chegar até ao pecador o evangelho da graça. Quem capacita os ministros do evangelho é Deus. Portanto, todo o trabalho de salvação vem de Deus gratuitamente e não do homem. 

Mas onde entra a fé? É algo do homem ou de Deus? Se ler atentamente o que foi colocado no parágrafo acima irá notar que não existe fé sem que o evangelho seja ouvido. A fé vem pelo ouvir a palavra de Deus (Rm 10:17). A luz do evangelho é que faz brotar a fé e a esperança do perdão, da salvação, do juízo e da ressurreição. (Rm 8:24; Rm 1:16). 

A pergunta é: como alguém seria salvo sem ouvir e ser iluminado pelas boas promessas e pelo evangelho de Deus? Ninguém! O evangelho veio do céu, por meio da bondade divina. A luz de suas palavras trouxera entendimento ao mais vil pecador que creu e decidiu obedecer. Por outro lado, o mesmo pecador que creu na graça divina, pode decidir voltar ao pecado e negar a fé (2 Tm 4:10; 1Tm 5:8; 2 Tm 2:12; Ap 3:5)

Então já se sabe que a fé vem pelo ouvir o evangelho. Como já foi dito, o pecador pode ter vários empecilhos para entender e permanecer na verdade. A parábola do semeador é uma bom exemplo disso. A fé recebida pelo evangelho é uma coisa, a decisão de permanecer nela é outra (Aqui que entra o livre arbítrio). E isso já não tem nada a ver com Deus, mas sim com o pecador que não abre o seu coração por engano, por prazer ao pecado ou por endurecimento. Deus dá a salvação de graça pela fé trazida pelo evangelho. A escolha de permanecer nele, porém, é do homem.

Uma pessoa pode ouvir o evangelho e não crer. Alguns embaraços a impedem de aceitar a fé (2Co 4:4; Mc 4:14-20). O evangelho chega a todos, mas não se esqueça que o pecador tem sérios problemas para lidar com as questões espirituais. Ou ele crê para a justiça ou não crê para a condenação. Entretanto, Deus em sua infinita misericórdia, dará várias oportunidades para um incrédulo lembrar e até ouvir novamente o seu evangelho. Porém, em Provérbios 29:1, está escrito:

"O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio." (Provérbios 29:1)

 A conclusão é que o homem não tem participação alguma no trabalho de salvação divino. O evangelho é um convite à sua graça, amor e perdão. Se ele vai crer ou não dependerá de alguns fatores como já repetidas vezes foi falado. A bíblia traz uma bem-aventurança aos que buscam entendimento, conhecimento e sabedoria.

Uma vez que é alcançado pelo evangelho o perdido precisa procurar entendê-lo, caso tenha interesse em conhecer mais sobre o seu destino eterno. A responsabilidade é de cada um. A fé no evangelho é ofertada a todas! Em provérbios 24:3, está escrito:

"Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece."

Como muitos (até cristãos) desprezam a sabedoria e o entendimento espirituais serão sempre atraídos pelas tentações fugazes do mundo. Entendimento é luz!

Eleitos para um propósito ou ministério específico

Você verá na bíblia alguns casos como o de Jacó, o rei Ciro, Salomão, Jeremias, João Batista, Paulo e outros sendo escolhidos desde o ventre de suas mães para uma obra, propósito ou ministério específico e não para a salvação (expiação dos pecados, libertação da condenação e da ira que só ocorrem em Cristo). Lembre-se que os anjos exerciam o seu ministério celestial, mesmo assim caíram em transgressão, apostasia e foram condenados. (2 Pe 2:4)

Louvado seja Deus pelo seu infinito amor e graça!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e ative as notificações para receber mais conteúdos.

Novas Postagens

Todas as Terças e Quintas-Feiras

A CONFIABILIDADE DA BÍBLIA

Evidência histórica Existem diferentes métodos científicos de avaliação de evidências.  Por exemplo, em um experimento químico, usamos o mét...